Suplementação de probióticos no manejo da obesidade

André Palma

Aluno da pós-graduação da Plenitude Educação

@adrepalma.nutri

A obesidade, condição caracterizada pelo excesso de adiposidade visceral em conjunto com o aumento de processos inflamatórios, é fortemente associada à resistência à insulina, diabetes mellitus do tipo 2 (DM2), aterosclerose e dislipidemias (Hipercolesterolemia e Hipertrigliceridemia). Porém tal condição tem se mostrado cada vez mais complexa, e estudos apontam também que a composição da microbiota e saúde intestinal pode ter um papel muito relevante nesse processo. 

Mulheres gordas usando as duas mãos para segurar o excesso de gordura na área da cintura

Mas qual o papel do intestino e microbiota na obesidade e suas comorbidades? E não para por aí; a obesidade também é caracterizada por diversas modificações na composição da microbiota como diminuição da diversidade, aumento da razão firmicutes/bacteroidetes, razão essa vinculada ao aumento de extração energética dos alimentos pelas bactérias, fermentando carboidratos não digeríveis e aumentando a produção principalmente de acetato e propionato, os quais em excesso  odem induzir à lipogênese; sendo também tal disbiose responsável pela inibição do FIAF (fasting induced adipose fator) fator inibitório da enzima LPL, favorecendo assim um  aumento de sua atividade e maior deposição de ácidos graxos no tecido adiposo.

O aumento na permeabilidade intestinal também é um fator muito importante, favorecendo a entrada de lipoporissacarídeos, (presentes nas membranas das bactérias gram negativas) na circulação, consequentemente gerando respostas imunológicas (interação com TLR4) e aumento de processos inflamatórios, por ativação também da via NFKb, conhecido como inflamação crônica de baixo grau, fator que também pode auxiliar no aumento de peso progressivo e piora em sinalizações metabólicas, podendo ser o início das diversas Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) citadas acima.

E pela extensa ligação da microbiota com o metabolismo do hospedeiro de maneira geral, a suplementação de probióticos vem sendo estudada em várias óticas. Potenciais aplicações terapêuticas dos probióticos na obesidade No manejo das principais comorbidades relacionadas à obesidade, evidências sugerem um potencial auxílio.

Diminuição de CT e LDL

A presença das hidrolases em algumas famílias de cepas como Lactobacillus e Biffidobacterium tem o potencial de desconjugar o ácido biliar presente no intestino, dificultando assim sua reabsorção e forçando o fígado a mobilizar mais colesterol para produção de mais ácidos biliares3. Outro possível mecanismo de ação é a inibição da enzima HMG-Coa redutase, etapa limitante na síntese de colesterol, pela viade ativação da AMPK.

Diabetes mellitus 2

O auxílio na manutenção da glicose parece estar ligada aos Ácidos Graxos de Cadeia Curta, principalmente o butirato com os receptores FFAR2 e FFAR3 (G-protein–coupled free fatty acid receptor) presentes nas células L dos enterócitos, aumentando então a excreção de GLP1, o qual exerce o papel de incretina, auxiliando na liberação de insulina

Efeito anti-inflamatório

A diminuição da inflamação também auxilia na melhora dos marcadores acima de maneira geral. Nesse contexto, o butirato vem sendo cada vez mais evidenciado por suas funções imunomodulatórias. Tal mecanismo de ação é proposto pela importante diminuição na expressão de importantes mediadores inflamatórios comoTNFa,IL- 1β,IL-6 e IL-17, via inibição da via NFKb, além de estimular a atividade regulatória (Produção de IL-10 pelas células células Treg)

Evidências sobre a suplementação de probióticos no emagrecimento

Sim, algumas revisões sistemáticas como as de John et al., 2018 e Borgeraas et al., 2018 corroboram com os resultados em diversos estudos clínicos de que a suplementação de cepas pode auxiliar na perda de peso, porém tal perda de peso parece não ter grande expressividade. Algumas das teorias para tal melhora poderiam ser pela desconjugação do ácido biliar, impedindo assima absorção dos AGLs.

A capacidade de reconstituição a barreira intestinal e aumento da produção de mucinas ocludinas e claudinas podem ser um potencial fator contribuinte para a diminuição da endotoxemia e consequentemente melhora de inflamação e perda de peso, além de prevenir a adesão de outros patógernos no intestino.

Outra teoria interessante seria a da indução do aumento da expressão de FIAF, ou ANGPTL4 e consequentemente uma maior inibição da enzima LPL, como visto Aronsson et al., 2010 pela suplementação de cepas de Lactobacillus paracasei em ratos. Uma possível rota para tal ativação seria pelos PPARs. Uma potencial ótica a ser estudada nesse quesito porém não muito explorada ainda seria pelo aumento da sinalização de saciedade pelos subprodutos dos probióticos (AGCCs e ácidos biliares desconjugados) e sua interação com os receptores GPCRs, localizados nas células L dos enterócitos, secretando importantes reguladores  de saciedade GLP1 e PYY. Porém tal efeito ainda parece controverso em estudos com humanos.

Essa área é muito vasta e ainda há muitos estudos a serem feitos, porém pelo que os estudo trazem até o momento a utilização de probióticos na obesidade/ emagrecimento parece promissor por 1-) Auxiliar diretamente na saúde (diminuição da inflamação, melhora da permeabilidade, conversão de colesterol), 2-) Atuar indiretamente na perda de peso (relação com a produção de incretinas). Alguns fatores limitantes nos estudos seriam o tempo intervenção e a extensa variedade de cepas e posologias (cápsulas, alimentos fermentáveis, pó). Talvez por isso alguns resultados ainda sejam um pouco contraditórios, porém muito animadores, visto a capacidade do intestino de se comunicar com o metabolismo de forma geral por diferentes eixos. Abaixo colocamos uma tabela de alguns dos estudos (probióticos e obesidade) que tiveram resultados positivos com a utilização destas combinações em específico.

Quer saber mais sobre o assunto? Acesse:

Artigo 1

Artigo 2

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